Religião e Preconceito

Religião é cultura.

E as crianças estão inseridas na cultura de suas famílias e povos desde que nascem e não há problemas nisso. O problema é quando estas religiões e culturas violentam os corpos dessas crianças, sem dar a essas a chance de escolha.

Raspar os cabelos de uma menina é um ato de violência? Sim, caso ela tenha sido forçada. Se ela optou por isso, absolutamente não!

Achamos horroroso uma menina ter sua cabeça raspada para um rito de sua crença de matriz africana, pois "ela é muito nova", "não é possível que já saiba o que quer", "foi a mãe quem fez ela fazer isso", e pipipi popopo...Porém aplaudimos e achamos lindo uma criança auto intitulada pastora evangélica pregando no YouTube, "it malia!", "que bênção!", "tão novinha e já sabe a palavra!"🤔 Mas as duas não são crianças? Como uma não sabe o que quer e a outra já sabe?

Será que a nossa preocupação é mesmo em proteger as crianças ou só reproduzir e perpetuar preconceitos?

Ritual de iniciação no Candomblé

Vamos pegar um outro caso de rito ligado à cultura religiosa: na tradição judaica é feita uma Circuncisão (mutilação) na genitália dos meninos ao nascerem. Em alguns países africanos, na Indonésia entre outros, é feita uma circuncisão (mutilação) na genitália das meninas ainda pequenas. A tradição judaica é aceita e pouco questionada, porém as outras são vistas como atraso. Mas não seriam as duas tradições atrasadas? Os dois atos são de violência contra o corpo de crianças que não tiveram chance de escolha, por que só em um dos casos o ato de violência não é demonizado?

A nossa sociedade só enxerga como boa a cultura eurocentrada, branca, masculina, hetero e "civilizada". O quanto nós, às vezes sem perceber e por estarmos inseridos em uma sociedade que privilegia uma cultura e demoniza outras, não engrossamos a turba dos preconceituosos e, porque não, racistas, que veem as religiões de matriz africana como ruins? Vale a pena refletir sobre este assunto.

Imagem daqui